Modelo do Continuum: pensamento alternativo ao Ciclo Vital



Li um artigo e resolvi compartilhar aqui algumas anotações interessantes que fiz. O livro todo possui uma leitura bastante agradável.

Artigo: Modelo do Ciclo Vital e Modelo do Continuum: uma visão das concepções de organização arquivística desde o período do pós-guerra. Escrito por Glenn Dingwall.

O artigo está no Livro: Corrente atuais do pensamento arquivístico. Organizado por Terry Eastwood e Heather MacNeil (organizadores). Tradução de Anderson Bastos Martins e Revisão Técnica de Heloísa Liberalli Bellotto. (2016). Editora UFMG, Belo Horizonte.

Após a primeira Guerra Mundial, Hilary Jenkinson adotou o Arquivo Intermediário no Governo do Reino Unido. Os governantes constataram a economia de recursos e de espaço com a decisão e outras instâncias governamentais do Reino Unido também a adotaram, inclusive de outros países. Após a segunda Guerra Mundial, as publicações de Rousseau e Couture estabeleceram concretamente a Teoria do Ciclo Vital, destacando a existência de três idades do documento, incluindo a idade Intermediária. As três idades do documento são: corrente, intermediária e permanente.

Essa definição/delimitação de idades do documento teve repercussão na divisão da classe de profissionais arquivistas estadunidenses, os "archivists" ligados aos Arquivos Permanentes, e os "records managers" aos Arquivos Correntes e Intermediários. Por causa dessa divisão profissional de arquivistas norte-americanos e na tentativa de reaproximá-los, é que os conceitos iniciais do Modelo Continuum foram formulados. No entanto, os estudos mais detalhados foram formulados na Austrália, por isso o chamam de Modelo Australiano. O novo modelo questiona a existência das fronteiras existentes no Ciclo Vital. É um pensamento alternativo ao do Ciclo Vital.

Assim como Glenn Dingwall defende no texto, concordo que as ideias do Modelo Continuum são mais como um refinamento/aprimoramento das ideias do Ciclo Vital, do que simplesmente um modelo totalmente novo. "[...] talvez seja melhor tratar o modelo do Continuum como um conjunto de ideias que ampliam, mais que substituem, aquelas que atuam no modelo do Ciclo Vital" (p. 229-230).

A compartimentalização instituída pelo modelo canadense do Ciclo Vital, torna difícil aplicá-lo ao ambiente digital. As TIC's tornaram irrelevantes as fronteiras espaciais e temporais referente às atividades do tratamento documental, normalmente aplicadas no ambiente tradicional.

Algumas funções arquivísticas, como preservação, descrição (e acesso) são realizadas desde a produção do documento ou até mesmo antes da produção. Assim, uma visão mais holística, sem compartimentalização, torna-se possível.

A classificação no arquivo corrente tem a mesma base para o arranjo intelectual no permanente. Possuem apenas aspectos diferentes de um mesmo processo. A descrição arquivística, na fiel concepção da expressão, inicia no registro e na classificação do documento ainda no protocolo, ou seja, na entrada do documento no acervo, e permanece durante sua existência. No ambiente digital o documento nasce com seus prazos, destinação final e detalhes ligados à preservação, já definidos. São demandas do cenário atual que superam as compartimentalizações definidas pela teoria do Ciclo Vital.



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